Desabafo

O que você é capaz de fazer para (tentar) machucar alguém? Quando eu era criança, minha mãe me ensinou a não ofender ninguém, porque poderia ser ainda mais ofendida. Não tratar mal ninguém, porque isso poderia voltar-se contra mim. Não ser má, porque sempre tem alguém pior. Ainda estou tentando entender o que leva as pessoas a ferirem outras que, um dia, disseram querer bem. Cometi, e cometo, muitos erros ao tentar compreender como funciona a mente humana, mesmo sem ser psicóloga. Estou cansada. Escolher ignorar uma pessoa que já foi a pessoa mais importante para você é uma decisão difícil, mas que, às vezes, tem que ser tomada para o bem da sua saúde mental. Já fiz, e nem doeu tanto assim. Mas o que somos capazes de fazer para entender o outro? Por que ainda tento? Não sei. Não falo com algumas pessoas e nem me importo. Já tive meu coração partido três vezes e não falo com nenhum eles, e me importo. Com os três. Com a fugacidade das relações e da vida. Acordo todo dia e penso: a partir de hoje, tudo vai ser diferente e todo mundo vai se entender e viver em paz. Já fui ignorada, machucada e xingada dos mais duros nomes, por pessoas que foram tão especiais que fizeram com que aquilo doesse ainda mais. Sofri, chorei, e hoje não consigo nem chorar, só queria entender o porquê. Devia ser uma pessoa menos preocupada com os outros e mais egoísta. Devia jogar na cara. Devia espalhar a verdade. Mas prefiro calar-me. Prefiro recolher os pedaços do que um dia se quebrou e me reconstruir. Prefiro olhar para frente, mesmo que não acreditem que segui em frente. Não vejo nada além de uma estrada limpa e cheia de luz, simplesmente porque desisti. E desistir é duro. Desistir dói. Quem desiste, destrói. Tenho andado sem inspiração e sem vontade de fazer qualquer coisa. Tenho andado triste com a violência contra o outro. Tenho ficado chocada com a falta de amor, de respeito, de humanidade e de carinho do ser humano. Não quero mais saber. Vou tomar uma cerveja e sorrir para quem sorri para mim. Vou chutar o balde e mudar de vida. Vou ouvir os conselhos e deixar de ser teimosa. Vou ser indiferente. Não é a dor da perda o que mais machuca, é a dor de saber que a gente não conhece ninguém, que as pessoas não dão a mínima para você e que você errou, mais uma vez.