terça-feira, maio 24, 2011

Tolice é julgar sem ver...

Tolice é julgar sem ver, porque quem forma uma opinião baseada na opinião do outro, não criou nada, só copiou. E ninguém quer ser cópia, pro bem ou pro mal. O tão falado livro do MEC, que coloca na mesa a pluralidade da língua portuguesa, está sendo massacrado pelos literatos, pela mídia e, quem sabe, por mim e por você. Mas você compreendeu o que o livro quis dizer? Neste momento, em que estamos todos nos questionando sobre a educação no país, vendo o vídeo da professora Amanda, lá do Rio Grande do Norte, e aplaudindo, vendo no Jornal Nacional as reportagens sobre as diferentes escolas (e as diferentes formas de educar) pelo Brasil, eu te pergunto, você tem educação?
Há alguns dias, fiz questão de publicar em uma rede social o capítulo do livro supracitado pra fazer você pensar e tirar suas conclusões PELA SUA CABEÇA, mas não dá, né?! É grande demais... São dezessete páginas, não temos tempo pra isso! Mais fácil sair dizendo que um livro escolar está ensinando a falar errado.
O nome do livro é Por uma vida melhor e o capítulo é Escrever é diferente de falar (http://www.acaoeducativa.org.br/downloads/V6Cap1.pdf). Consegui no site da Ação Educativa (http://www.acaoeducativa.org.br), por meio de uma amiga de Facebook, a Cris Henriques. Um livro, gente, UM LIVRO! Pelo amor de Deus, um livro nunca deseduca, não importa, pode ser o Diário da Tati, o livro do Casseta e Planeta. Alguma coisa boa ele vai trazer, pode ser o hábito da leitura, pode ser um pequeno momento de descontração, pode ser uma palavra desconhecida que te leva ao dicionário pra aprender seu significado.
Quando fiz Letras, tive uma matéria chamada Linguística, nela estudávamos as variações da língua e éramos instruídos a RESPEITÁ-LAS, afinal, ninguém fala como escreve. Ninguém escreve um e-mail como escreve um relatório (pelo menos não deveria), ninguém “conversa” no messenger como conversa “ao vivo”. Ou alguém já imaginou um roceiro daqueles, tipo o Chico Bento, sem dizer: “nóis vai capiná na roça”? Ou nunca destacou uma parcela dos torcedores do Flamengo chamando de fRamenguista? Ou você nunca disse: “tu vai lá em casa?”, “É mermo?”, “Comé que faz?”? Nunca percebeu a diferença regional ao querer comer um aipim frito no nordeste e ter que pedir uma macaxeira? Ou pedir jerimum em vez de abóbora? Mexerica em vez de tangerina? De onde é quem pede “um chopps e 2 pastel”? De onde é quem diz: “mas tu tens uma festa trilegal pra ir amanhã?”. “Ah, mas isso é outra coisa”... Não é, não, é tudo variação linguística.
Então, vamos acabar com a HIPOCRISIA porque, como a professora Amanda disse: não é um professor em uma sala de aula que vai ser o redentor do mundo. Nem um livro. O que percebi ao lê-lo é que ressalta estas particularidades da linguagem oral, destacando que determinados traços podem causar preconceito (vide framenguista). Salientou que a língua falada é viva, sofre modificações naturais e não podemos caracterizá-las como erro. Vamos olhar no dicionário o que é ERRO (juízo ou julgamento em desacordo com a realidade observada; desvio do caminho considerado correto, bom, apropriado – segundo o Houaiss)?! Quem é você para dizer que é inapropriado pro Chico Bento lá de cima falar “nóis vai capiná”? É inapropriado PRA QUEM? EM QUE CONTEXTO? É inapropriado pra hora de pescar? NÃO. É apropriado e suficiente pra ele se comunicar com as pessoas do convívio dele. Linguagem oral, pessoas! O livro não condena a gramática, nem recomenda a ausência de concordância. POR FAVOR!
Além disso, educação está também em você atravessar a rua quando o sinal de carros está vermelho e esperar no carro pacientemente quando o sinal de pedestres está verde. Está em você não cuspir no chão, não fazer xixi na rua. Esbarrar em alguém e pedir desculpa, pedir licença. Está em LER. Ler jornal, ler revista, ler livros, não só conversa no orkut, facebook, twitter e msn. Ser respeitoso, saber argumentar e não vencer a discussão na base dos gritos e palavrões. Está em respeitar as escolhas do outro, está em estudar. Estudar no sentido amplo da palavra, correr atrás do conhecimento. Porque a gente se emociona com vídeos e histórias que aparecem por aí, mas é fácil DEMAIS admirar de longe a realidade de outrem.
Vamos culpar o governo que aprova um livro desses e paga um salário cretino aos professores? Vamos. Mas vamos também olhar pro nosso umbigo. Pra preguiça que temos de trabalhar, pra quando ficamos o dia inteiro sem produzir nada, pra quando achamos que somos muito espertos porque enganamos alguém, mesmo que com uma mentirinha mínima. Quando falamos mal dos outros pelas costas, quando fazemos pouco do esforço e do trabalho do outro. Quando fechamos os olhos pra não dar lugar pro velhinho sentar ou empurramos pra ocupar um lugar que não é nosso. É tudo parte da tríade da educação: família, escola e sociedade. Você faz algo pela educação? Você escreve, fala e convive bem o suficiente?
Seria maravilhoso se ninguém falasse “errado” e se língua falada e escrita fossem uma só. Seria lindo e, completa e absolutamente, impossível. Este é um assunto com muitos aspectos que um texto meu jamais conseguiria explicar... Poderíamos ter poupado os coitados dos alunos (que não são crianças, pois o livro é para o EJA - Educação de Jovens e Adultos) de um raciocínio tão complexo? Sim, e assim, estaríamos julgando que eles são incapazes de perceber a diferença entre erro e acerto, aceitação e adequação, linguagem oral e escrita. E no frigir dos ovos, somos todos inteligentões e escrevemos com perfeição. Falando então, somos de eloquência formidável e gramaticalmente perfeitos. Ahhh tá....

3 comentários:

Alex da Silveira disse...

A idéia em si não é ruim... acho até interessante um capitulo fora da norma culta que sirva pelo menos para o estudante, quando for fazer uma prova, saber que a forma com que fala não é a forma com que irá escrever, alertando até para a necessidade de estudo, despertando isto no estudante.

Mas existem 2 questões... o livro falar em preconceito linguistico... um jurista chegou a dizer que devido a esta colocação ele se veria obrigado a dar ganho de causa para quem entrasse na justiça por ter perdido pontos ao não usar a norma culta em um concurso.... O livro poderia chamar de forma popular e parar por ai....

Mas o mais perigoso.... É um livro que poderia ser bem adotado por colégios particulares com estrutura, e os poucos publicos. Considerando a forma como o ensino é levado na rede publica, a forma não culta pode ser adotada em qualquer situação...Não é só uma questão relativa ao livro, mas de como o professor vai usar....

Estudei no Colégio Pedro II e na 8 série tivemos um livro de como usar LSD... Isto mesmo... ensinava o que é, como manusear, como usar....Eu uso LSD? Não e não conheço nenhum colega de turma usuario... Mas não poderia ser um livro prejudicial? Sim! Mas o professor conduziu de forma a entendermos o assunto sem a formação de usuários... Serve até para afastar das drogas....

Acho que este livro segue a mesma linha.... pode ser prejudicial? Pode! Mas pode apresentar benefícios? Sim! Vai depender do professor e ai está o problema quando penso neste livro na rede publica... Assim, o problema não seria o livro... ele não tem poder para nada, por ser um amontoado de papel com palavras escritas... o problema seria o educador.......

Alex da Silveira disse...

Apenas uma obervação acerca do comentário que postei... Sei que o livro é para jovens e adultos... Meu exemplo pode não ter deixado claro isto... E por conhecer uma parcela dos tipos de juvens e adultos, pelo menos aqui dos arredores do Compl do Alemão, acho que sem um bom educador o livro poderia ser prejudicial.... não para todos, mas uma boa parcela.... ai é que entra a necessidade de um bom educador para tornar a idéia do livro positiva.... Como já disse, o livro em si é neutro... o efeito dependerá da forma com que for usado

Mariane disse...

Alex, só pra dizer que o que esse jurista falou é uma imbecilidade. O livro deixa claro que o uso popular da língua se dá numa CONVERSA informal. Repito, ORAL. Jamais em um concurso. Mais uma pessoa que falou sem ler e sem compreender o sentido. Quanto ao bom educador, concordo com vc. Mas não só na aplicação deste livro, mesmo para ensinar a norma culta, o aluno precisa de um bom educador, senão entra por um ouvido e sai pelo outro. Agora, nisso o governo peca e muito, numa estrutura que proporcione ao educador excelência de ensino. Mas teu exemplo do LSD foi sensacional. Foi o que eu quis dizer sobre este livro. Ninguém vai sair falando nós vai pq o livro fala que não é erro. Foi uma ousadia do autor, mas tá longe de merecer a condenação q está tendo.